A equipe de jornalismo do Agro é Negócio conversou com o diretor executivo da Associação de Avicultores do Estado do Espírito Santo (Aves), Nélio Hand, sobre os recentes casos de gripe aviária em aves silvestres. Entre os assuntos, foram abordadas questões relacionadas à economia do setor, prevenção para grandes e pequenos produtores, cuidados para a população, o papel da Aves nesse contexto.
Hand esclareceu que a gripe aviária identificada não representa risco ao consumo de frangos e ovos, porque se trata de incidências em aves silvestres. Mas reforçou a necessidade de se manter medidas de proteção e prevenção para que os planteis não sejam atingidos por esta enfermidade.
Abaixo, você confere o ping-pong que fizemos com o diretor executivo da Aves, na íntegra.
Agro é Negócio
Quanto o segmento de aves de corte movimenta na economia (R$) do Espírito Santo, atualmente?
Nélio Hand - Aves/Ases
Josué, a nossa avicultura de corte aqui no estado do Espírito Santo, embora seja um pouco tímida no contexto nacional, mas tem uma relevância significativa para oestado do Espírito Santo, para a economia local. Nós, no ano passado, o faturamento bruto da produção ou aquilo que se faturou da porteira para dentro, foi em torno de R$ 1,25 bilhão. Um valor um pouco é inferior ao ano anterior, o ano de 2021.
Mas principalmente em função dos altos custos que nós vivenciamos, principalmente, com os insumos. O custo da produção em si. Então, nós tivemos uma queda em torno aí de 11% em relação a 2021.
Agro é Negócio
Qual a expectativa de movimentação (R$) para o restante do ano de 2023 e para 2024?
Nélio Hand - Aves/Ases
Bom, 2023 representa um ano de recuperação para o setor, pelo menos o que estamos vivenciando até então, embora ainda exista bastante ajuste em relação aos custos, mas que estão amenizados em relação, ou se compararmos, com os três últimos anos. Então, nós esperamos que o setor possa minimamente recuperar aquele volume que houve de redução na produção. Se nós compararmos 2022 com 2021, nós tivemos uma redução de 4% na produção. Como eu mencionei anteriormente, a parte do faturamento, nós tivemos uma perda em torno de 11%. Então, eu acredito que nós vamos conseguir fazer esse período de recuperação. E aí sim, a partir de 2024, com uma perspectiva, talvez de crescimento. Talvez, algo em torno de 3 a 5% não seja nem exagerado, nem é tímido para se poder ter de perspectiva em relação à nossa produção de frango.
Agro é Negócio
Houve alguma queda considerável na economia desse setor depois dos casos de gripe aviária em aves silvestres?
Nélio Hand - Aves/Ases
Não. Nenhuma queda em relação à consumo em relação a outros fatores talvez no contexto econômico ou financeiro que estejam relacionados às incidências de influenza aviária, nos últimos dias. Porque o consumidor está também sendo orientado, está recebendo informação e permanece muito tranquilo quanto a isso. Claro, as orientações estão sendo muito incisivas com o cuidado da população em relação à constatação de algum caso em animal Silvestre e também à necessidade de fazer a notificação para as autoridades competentes. Mas, quanto ao consumo, também está sendo muito tranquilizado que não há nenhum risco em relação a consumir carne e ovos. Mesmo que haja algum episódio de influenza aviária.Então, o setor também está muito tranquilo quanto a isso ese espera que permaneça dessa forma em função desses esclarecimentos que estão sendo feitos inclusive pelas autoridades competentes, inclusive na área da saúde.
Agro é Negócio
Qual o impacto pode acontecer na economia, caso haja algum caso positivo de influenza em aves de corte?
Nélio Hand - Aves/Ases
O setor capixaba, assim como o setor nacional, não estápreocupado com isso neste momento. A preocupação é realmente manter os plantéis protegidos, os produtores estabelecerem nas granjas comerciais os seus protocolos de biosseguridade com maior intensidade. Então, em momento algum, nos últimos dias foi aventado, até porque não se tem uma ideia do que poderia ser.
Então, esse assunto é secundário nesse momento para o setor avícola, não só capixaba, mas também o brasileiro. Nós estamos preocupados agora e investindo todas as forças exatamente para orientar a população, orientar o setor como um todo - comercial, também as atividades de subsistência para que nós possamos evitar que aenfermidade vá além das aves silvestres, dos casos que estão acontecendo com as aves migratórias.
Agro é Negócio
Quais as principais medidas de segurança que os avicultores devem adotar para que a gripe aviária nãoacabe afetando também as aves de corte?
Nélio Hand - Aves/Ases
O setor nacional, junto com as autoridades, através da Associação Brasileira de Proteína Animal ABPA, do Ministério da Agricultura e os estados, entre eles, do estado do Espírito Santo, vêm já trabalhando medidas preventivas desde outubro do ano passado, quando nós tivemos as informações de casos na América do Sul. Então, desde daquele momento, foram realizadas diversas reuniões no sentido de alinhar e consolidar orientações para o setor, também preparar as entidades estaduais e os órgãos estaduais para eventual enfermidade nos seus territórios, assim como está acontecendo aqui no EspíritoSanto e é isso que nós estamos seguindo. Quer dizer, nós estamos agora transmitindo essas informações para o setorde uma forma mais contundente, de uma maneira que ele possa realmente ser mais incisivo naquela atuação, no campo ou na propriedade, para proteger o seu plantel.
Então, as medidas que estão sendo tomadas são aquelas que já são uma prática na produção comercial. O setor já vem com um histórico, desde de 2017, com uma legislação estabelecida pelo Ministério da Agricultura, através da IN 6 de 2007, que define protocolos que precisam ser trabalhados numa granja comercial. Em cima desses protocolos, o estabelecimento comercial, através do avicultor, do proprietário, junto com o médico veterinário responsável, estabelece um plano de ação e um plano de atuação nas granjas em si para que elas possam ficar protegidas. Então, entre elas, a cerca de isolamento do núcleo de produção para não haver a incidência ou a ocorrência de entrada de animais, inclusive silvestres, animais domésticos, o telamento dos galpões, com tela de até no máximo uma polegada, para proteger as aves dos galpões de aves silvestres. Nós podemos também mencionar que a desinfecção dos veículos que precisa ocorrer para acessarem o interior do núcleo, principalmente os veículos que estão relacionados à produção, a desinfecção na entrada e na saída, barreiras sanitárias no caso de pessoas, no acesso de pessoas, de funcionários, de outras pessoas que precisem ter algum acesso, a desinfecção ou a troca de roupas ou até em alguns casos o banho dessas pessoas para que elas possam estar higienizadas e não oferecer nenhum risco para o plantel.
E agora isso está sendo redobrado, está sendo mais intensificado, quer dizer, no caso das visitas, por exemplo, nós estamos orientando que, terminantemente, sejam proibidas as visitas e que só acessem a granja aquelas pessoas que são extremamente necessárias na produção ou se tem um técnico, por exemplo, que precisa fazer uma visita ao plantel para poder verificar alguma outra situação, que ele tenha passado por um vazio sanitário de pelo menos 72 horas, no caso de ele ter visitado uma outra granja, um outro estabelecimento. E assim com tudo, quer dizer, revisar as telas, revisar a cerca, para não correr o risco de ter algum contato de aves externas ou animais externos com o plantel que está naquele núcleo de produção.
Então, são ações que já vêm sendo feitas há muito tempo pelo setor e que agora estão sendo mais do que valorizadas e intensificadas para que possam proteger o plantel que esteja naquele núcleo de produção.
Agro é Negócio
Como a Associação de Avicultores do Estado e Espírito Santo tem atuado para auxiliar os avicultores na prevenção à gripe aviária em aves de corte nesse momento?
Nélio Hand - Aves/Ases
Nosso papel enquanto entidade representativa da avicultura capixaba é exatamente fazer essa orientação ao setor comercial, aos nossos associados, aviculturacapixaba de uma maneira geral e também fazer as ações junto às autoridades, nesse momento que nós estamos tendo as incidências de influenza aviária nas aves silvestres. Então, nós temos feito uma atuação muito forte junto com a Secretaria de Estado da Agricultura, o IDAF, que é o órgão oficial estadual que cuida dessa parte da vigilância, também a Superintendência do Ministério da Agricultura e várias outras instituições ou autarquias públicas e privadas. E nesse momento, por exemplo, nós estamos trabalhando fortemente na comunicação, não somente com o setor privado, com as granjas comerciais, mas, como eu já mencionei, junto à população e também junto às propriedades de pequeno porte aqui no estado.
Segundo informações, o Espírito Santo tem mais de 130 mil propriedades rurais no seu território, apesar de ser um estado pequeno. E existe uma preocupação muito grande com as atividades de subsistência ou a produção chamada de fundo de quintal. Então nós estamos trabalhando para que a informação chegue a essas propriedades pequenas, para que a população que está nesse meio rural possa também tomar providências quanto a essas aves. O que são essas providências? Proteger as aves de um possível contato com aves externas ou de aves silvestres, no caso, melhor dizendo. Então a população está sendo orientada, os proprietários dessas pequenas propriedades estão sendo orientados a deixarem as suas aves presas no ambiente, que nós chamamos de galinheiro aqui no interior, é comumente chamado, que essas aves sejam mantidas no galinheiro com uma tela de proteção, assim como nós protegemos as granjas comerciais, para evitar o contato com algum animal externo.
Também a ração e a água que é oferecida para esses animais, ou a alimentação que é oferecida para esses animais, ela também precisa permanecer protegida, porque isso é um atrativo para o animal silvestre. Então ela tem que ser mantida limpa e protegida para essas aves que estão reclusas, digamos assim, possam também ter o seu consumo e a garantia de que não possa ter nenhum tipo de contaminação. Além disso, nós estamos também buscando orientar aquelas atividades que são um pouquinho maiordo que aquela de subsistência, mas que estão abaixo da produção comercial. Ou seja, para você ter uma ideia, é permitido que um produtor possa, ou qualquer pessoa possa produzir até mil aves sem ter o registro junto ao Ministério da Agricultura, como eu mencionei anteriormente, aquele protocolo todo de biosseguridade. Então tem essa possibilidade de ter essa produção. E essa produção também pode oferecer algum risco porque exatamente não são tomadas as medidas sanitárias necessárias, assim como são tomadas na produção comercial. Então a nossa orientação é nesse sentido, que esses animais sejam protegidos para que possamos realmente não permitir que essas incidências passem além das aves silvestres, quer dizer que permaneçam somente nelas e que ali elas possam receber o devido controle.
Então em cima disso também a orientação à população em relação a se verificar uma ave silvestre com sintomas e aí vale ressaltar que se a ave não estiver numa condição normal, verificada, estiver com andar cambaleante, estiver apresentando uma coriza, quer dizer qualquer coisa que não esteja sendo percebida como normal naquela ave, que a população informe também, né, o órgão oficial, que é o IDAF, ou informe a Secretaria de Agricultura, ou a Incaper, que é o Instituto de Pesquisa aqui no Estado também, enfim, qualquer autoridade para que possam recolher esse animal e fazer as devidas verificações se ele tem alguma incidência da enfermidade ou não.
Então é nesse sentido que nosso trabalho está sendo concentrado nesse momento. E é claro, né, um trabalhobastante incisivo junto ao setor, até se preparando para que caso ocorra alguma incidência no setor comercial, também de forma muito rápida, possa serem tomadas as devidas medidas junto com as autoridades oficiais responsáveis por essa área.
Agro é Negócio
As pessoas devem se preocupar com o consumo de frangos e derivados? Por quê?
Nélio Hand - Aves/Ases
Não, as pessoas não precisam se preocupar com o consumo. A transmissão não ocorre na ingestão de alimentos procedentes de frangos, ovos e seus derivados. Ela pode acontecer do animal para o ser humano no contato muito próximo do ser humano com esse animal. E assim mesmo existem poucos casos mundo nos últimos anos. E a gente precisa deixar bastante destacado que as incidências estão acontecendo nesse momento somente em aves silvestres. Quer dizer, nós não temos nenhum caso registrado em produção comercial e estamos trabalhando fortemente para que isso não ocorra e que o problema seja mantido e contido nesse patamar que está nas aves silvestres.
Existe algum trabalho em conjunto com as associações de avicultores de estados vizinhos ao Espírito Santo no combate e prevenção a este surto?
Olha, eu não sei se nós podemos considerar essas incidências, essas confirmações que nós tivemos nos últimos dias, um surto. Pelo menos eu, particularmente,não considero. Foram casos que aconteceram e, até o momento, poucos casos e destacando novamente em aves silvestres.
Mas as associações vêm trabalhando juntos sim. Como eu mencionei lá no início da nossa conversa, capitaneados pela Associação Brasileira de Proteína Animal, os estados vêm se reunindo e trabalhando na mesma vertente de orientação. Quer dizer, tudo que nós estamos fazendo aqui no Espírito Santo, as demais entidades estaduais dos estados produtores também estão preparadas para fazer. E nesse momento que está ocorrendo essa incidência aqui no Espírito Santo, as associações estaduais estão no alerta também em seus territórios, e ajudando a fortalecer esse trabalho de orientação junto aos produtores, e também constantemente em contato com as autoridades locais para, exatamente, fazer esse monitoramento. Afinal de contas, nós estamos lidando com animais silvestres de caráter migratório, quer dizer, não é somente aqui no Espírito Santo que essas aves que foram encontradas passam. Então pode acontecer, assim como já foi encontrado um caso no Rio de Janeiro, podem também existir essas aves em outros estados e elas, sim, oferecem um risco, então esses estados estão atentos.
Então o trabalho vem sendo feito nos últimos tempos de orientação de forma conjunta, de uma maneira uniforme e, volto a dizer os estados também, os demais estados estão da mesma forma que a associação está atuando aqui no Espírito Santo, também atuaria, é claro, de acordo com a sua realidade, de acordo com o seu tamanho, mas atuaria também no seu território para poder trabalhar para que o setor comercial pudesse estar protegido.
Agro é Negócio
O senhor tem algum recado específico para transmitir para a população, para os avicultores, diante desse cenário que a gente está enfrentando?
Nélio Hand - Aves/Ases
O recado que eu gostaria de deixar, a informação final, para a população que possa ficar tranquila e que continue consumindo ovos, frangos e seus derivados sem preocupação. Também aos proprietários das propriedades rurais que possuem talvez alguma atividade de subsistência ou atividade de menor porte da produção avícola que protejam os seus animais, também busquem orientações técnicas se for necessárias, fundamentalmente também buscar orientação junto ao IDAF, ao Incaper aqui no estado, que são os órgãos, as autarquias estaduais, e ao setor industrial ou comercial, como nós tratamos aqui, que produz frangos e ovos, que mantenham o seu trabalho reforçado na proteção dos seus núcleos, dos seus aviários. Quer dizer, revisem todos os procedimentos, todos os protocolos, para que nós possamos continuar mantendo a nossa atividade, o nosso frango, o ovo, a galinha protegida dessa enfermidade que realmente preocupa, mas que nós estamos enfrentando com muita serenidade, com muitacalma, para que nós possamos fazer ações certeiras.
E no mais, nós colocamos a associação à disposição, o contato, qualquer dúvida que estiverem. E também a você, Josué, estamos sempre à disposição para trazer atualizações ou novas informações a respeito da nossa avicultura capixaba.
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